Crítica do valor: crítica do trabalho

A crítica do valor, ao contrário do marxismo tradicional, é uma crítica do trabalho. Este é visto como a substância do valor, ou seja, o trabalho no capitalismo existe para se converter em valor e mais valor (capital).

O marxismo tradicional é uma crítica do capitalismo a partir do trabalho. Por isso, a classe trabalhadora é vista como o sujeito coletivo revolucionário que irá superar o capitalismo, rumo ao socialismo.

A crítica do valor não nega a luta de classes, que é o conflito do trabalho com o capital. Mas, para eles, esta é uma luta dentro dos limites do capitalismo e não tem a capacidade de levar à superação deste, pois o trabalho é uma categoria básica do capital.

O comunismo (superação do socialismo) não viria com a tomada do poder pela classe trabalhadora, que se tornaria proprietária dos meios de produção, como pensa o marxismo tradicional. Para a crítica do valor, o comunismo só será possível com a abolição da classe trabalhadora. A superação do capitalismo não seria a realização do trabalho (e do trabalhador), mas sua extinção.

Por que se trabalha na capitalismo? Muitos dirão que é para satisfazer as necessidades humanas, físicas e simbólicas: alimentação, moradia, transporte, vestuário, diversão etc. Para os críticos do valor esta dimensão concreta do trabalho, de satisfação das necessidades, existe, mas fica em segundo plano. O motivo principal de trabalharmos no capitalismo é para gerar valor e mais valor.

Em termos grosseiros, trabalhamos para o dinheiro se multiplicar. Vivemos, literalmente, para o dinheiro, como se fôssemos pilhas de energia para alimentar o capital. No capitalismo, a economia não existe para satisfazer as necessidades das pessoas, como pensam os economistas liberais ou progressistas. São as pessoas que existem para satisfazer as necessidades da economia: e a sua principal necessidade é a reprodução do capital.

O poeta Paulo Leminski em seu livro Metaformose escreve que "os homens são os órgãos sexuais das fábulas". Com esta bela metáfora ele queria dizer que há um mundo das fábulas para além do controles dos homens que as contam.  Ao contrário do senso comum, que diz que os homens utilizam as fábulas para exprimir sua cultura, Leminski inverteu os termos: são as fábulas que se utilizam dos homens para se reproduzir. Como se o mundo das fábulas fosse independente da vontade dos homens e estivesse, na verdade, no controle da relação homem-fábula.

Esta metáfora de Leminski é análoga à visão da critica do valor. Pensamos que o dinheiro e a economia servem às nossas necessidades, mas na realidade nós é que servimos à economia. Parafraseando Leminski, "os homens são os órgãos sexuais do capital". O verdadeiro sujeito (automático, como dizia Marx) que tem o controle da relação homem-economia é o capital.

Para a crítica do valor, as pessoas são pilhas que alimentam a maquinaria abstrata do capital. E é através do trabalho que a economia suga a energia das pessoas e o capital se reproduz.



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